Neste tema importantíssimo para nós cristãos, o texto base será Mateus 7:24-29. Esta passagem situa-se no contexto do conhecido Sermão do Monte, que se inicia no capítulo 5. No Sermão, Jesus está diante de uma multidão e expõe diversos assuntos, como as bem-aventuranças, os discípulos como sal e luz, o homicídio, o adultério, o amor ao próximo, a oração, os tesouros no céu, a ansiedade, entre outros. Ao final, com o objetivo de concluir o seu discurso, Jesus fala sobre os fundamentos da vida cristã.
No Evangelho de Mateus, Jesus é apresentado como o Mestre por excelência, cuja autoridade é reconhecida não apenas pelas Suas palavras, mas pela coerência entre ensino e prática (capítulo 7, verso 29). Em Mateus 7, Jesus utiliza a metáfora dos dois construtores para ilustrar a diferença entre o mero ouvinte e aquele que pratica a Palavra que ouviu. Essa parábola tem um valor teológico e ético fundamental, pois propõe que a verdadeira sabedoria não consiste somente em ouvir o Evangelho, mas em ouvir e viver na prática.
Em primeiro lugar, o fundamento da vida cristã é o conhecimento, expresso no início do verso 24: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras...”. Este fundamento baseia-se no verbo "ouvir" — ouvir as palavras de Jesus, remetendo ao sermão que Cristo acabara de expor. O conhecimento que Jesus apresenta como fundamental para o cristão é o Seu ensino (verso 28), que é a vontade de Deus Pai para o Seu povo. Alguns líderes costumam afirmar que em suas igrejas não há doutrina, mas sim amor. Estes líderes acabam expulsando Jesus de suas congregações, pois a doutrina é o ensino de Cristo, e não existe vida cristã sem tais ensinos. A importância de conhecer a vontade de Deus é mencionada em vários textos bíblicos, como em João 8:32: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A liberdade aqui referida é a da escravidão do pecado; vive-se livre do pecado conhecendo a vontade de Deus. É fundamental para o cristão conhecer essa vontade, que se encontra nas Escrituras. É na Bíblia que o cristão encontra a vontade de Deus para a sua vida, pois a Bíblia é a verdade de Deus (João 17:17).
Em segundo lugar, o fundamento da vida cristã é a prática. Na primeira parte do verso 24, Jesus diz “...ouve estas minhas palavras...” e adiciona “...e as pratica...”. A prática dos ensinos de Cristo é essencial na vida do cristão; portanto, como escreve Tiago em sua carta, a fé sem obras é morta. No entanto, esta prática constante do Evangelho não é a causa da salvação — pois quem salva é Cristo através da Sua graça —, mas é consequência dela. Neste ponto, entendemos que o Cristianismo não é pragmático. O pragmatismo defende que a utilidade prática de uma ideia é o que a torna verdadeira, mas o que torna o Cristianismo verdade é o fato de ser o ensino de Jesus, e não apenas porque "dá certo" na prática. Se o cristão não observar o ensino de Cristo, sua prática não faz sentido, pois é ao conhecer a vontade de Jesus que o cristão obedece de forma coerente.
Em terceiro lugar, o fundamento da vida cristã é a perseverança. Esta verdade é clara na metáfora de Jesus: a casa que permaneceu de pé foi a construída sobre a rocha. O que diferenciou as duas casas foi o fundamento, pois as mesmas intempéries — “caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos” — vieram sobre ambas as construções.
Em resumo, o contraste entre “rocha” e “areia” representa os diferentes fundamentos da vida espiritual. A rocha simboliza a obediência e a firmeza da fé; a areia, a instabilidade da religiosidade meramente externa. Quando “caem as chuvas, transbordam os rios e sopram os ventos” (versos 25 a 27), a integridade da construção é provada. O colapso da casa do insensato — “grande foi a sua ruína” (verso 27) — ilustra as consequências inevitáveis da fé sem prática. O conhecer e o praticar são indissolúveis, pois Jesus deixa claro que o fundamento edificado sobre a rocha é aquele que ouve e pratica.
Quanto às aplicações para a vida cristã no tema abordado, destaca-se a indissociabilidade entre conhecer e praticar. Conhecer a Bíblia é o ponto de partida; a obediência na prática é o que autentica a fé. Tiago 1:22–25 ecoa a mesma verdade ao exortar: “Sede praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”. A metáfora apresenta o ensino da perseverança: as tempestades simbolizam as provações inevitáveis da vida. Somente uma fé alicerçada na obediência e na confiança em Cristo resiste aos impactos das adversidades.
Conclui-se que a vida cristã é construída sobre a prática fiel da Palavra de Cristo. A rocha representa a obediência ativa; a areia, a superficialidade religiosa. A nossa rocha é Cristo, pois Nele conhecemos, praticamos e perseveramos.